Nos últimos anos, “o Seconci-SP assumiu um protagonismo cada vez maior nos programas conjuntos com o SindusCon-SP de responsabilidade social”, afirmou Maristela Honda, presidente do Seconci-SP, na abertura de reunião online do Grupo de Trabalho (GT) das duas entidades sobre ESG (sigla em inglês para Responsabilidade Ambiental, Responsabilidade Social e Governança), em 13 de maio.
Maristela, que também é vice-presidente de Responsabilidade Social do SindusCon-SP, destacou que a atuação desta área “sempre teve como foco saúde, segurança e qualidade de vida do trabalhador e de sua família”. Lembrou que esta preocupação remonta aos anos 80, “quando introduzimos na convenção coletiva a obrigatoriedade de as construtoras servirem café da manhã nas obras”.
Ela elencou as ações conjuntas das duas entidades, começando pela Megasipat (Mega Semana Interna de Prevenção de Acidentes). “O conceito deste evento anual é desenvolver uma cultura de saúde e segurança do trabalho entre os trabalhadores. Ao longo das 21 edições do evento, fomos introduzindo novos temas relacionados à qualidade de vida, como: inclusão de pessoas com deficiência, combate a violência doméstica, responsabilidade social, valores, cuidados com o meio ambiente e a saúde.”
Maristela destacou o ConstruSer (Encontro Estadual da Construção Civil em Família), com os objetivos de: promover a formação do trabalhador e de seus familiares, por meio de atividades educacionais; oferecer oportunidades de discussões temáticas sobre valores individuais, éticos, morais e sociais, refletindo sobre o papel da família enquanto formadora do indivíduo e do cidadão; incluir socialmente o trabalhador e seus familiares; estimular a interação entre os trabalhadores; levar para a família do trabalhador informações sobre saúde, meio ambiente e geração de renda.
“Nas 12 edições anuais do evento, demos ênfase aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Trabalhamos temas como educação inclusiva e equitativa de qualidade, o respeito à mulher, a promoção de oportunidades de aprendizagem, a inclusão de pessoas com deficiência, a importância de conservação de água e a geração de renda. Desde o início do ConstruSer, tivemos a participação de mais de 370 mil pessoas em todo o Estado.”
Maristela mencionou ainda o Programa de Elevação da Escolaridade, para aumentar o nível educacional dos trabalhadores da construção civil, que não concluíram os cinco primeiros anos do ensino fundamental; as ações em favor da inclusão segura de pessoas com deficiência nos canteiros de obras, com destaque para o estudo desenvolvido pelo Seconci-SP a respeito; e o Serviço Social da entidade, que dá palestras aos trabalhadores sobre temas como drogas e alcoolismo, bem como orientações sobre planejamento familiar e de ajuda a uma série de necessidades.
Haruo Ishikawa, membro do Conselho Deliberativo do Seconci-SP e vice-presidente de Relações Capital e Trabalho do SindusCon-SP, afirmou que as duas entidades “se uniram em ações como o Comitê de Crise criado no início da pandemia de Covid-19, orientando as empresas e os trabalhadores sobre as medidas protetivas, de modo que a construção não parou e não houve desemprego. Além disso nos dois hospitais de campanha administrados pelo Seconci-SP em São Paulo, salvamos mais de 7 mil vidas.”
Práticas relevantes
Odair Garcia Senra, presidente do SindusCon-SP, destacou que “as boas práticas de ESG se tornaram indispensáveis no ambiente corporativo, são relevantes para o bem-estar de nossos funcionários, a preservação do meio ambiente, a gestão das nossas empresas e a satisfação dos contratantes e acionistas. Proporcionam ganhos inegáveis em termos de eficiência, qualidade e produtividade. E se tornaram um requisito exigido por nossos investidores e nossos financiadores.”
Agradecendo a participação do Seconci-SP, “nosso firme parceiro nos temas de saúde e segurança do trabalho”, Senra manifestou “a certeza de que mais uma vez as nossas entidades irão prestar um relevante serviço sobre ESG às empresas associadas”.
Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, vice-presidente do SindusCon-SP, disse esperar que o GT traga contribuições para as empresas do setor. “Vamos ver como as práticas ESG têm sido feitas e como podemos incrementá-las e divulgá-las, ajudando as empresas que ainda não as adotaram a entrar nesse caminho, nossas entidades sendo protagonistas nesta iniciativa, assim como somos em áreas como inovação, meio ambiente e responsabilidade social.”
Providências necessárias
Em sua palestra, o consultor João Carlos Redondo, coordenador do curso ESG na Prática do IBGC e coordenador da iniciativa Chapter Zero no Brasil, elencou as condições para essas boas práticas serem implementadas com sucesso e trazerem os resultados esperados. Segundo ele, a direção das empresas precisa estar convencida da importância dessas boas práticas. Precisa ter coerência entre o discurso e as ações. A empresa deve mapear os impactos de sua atuação na sociedade. Mudar o modelo de gestão e governança, pensando na orientação das pessoas da organização, e não só em processos. Zelar pelo comportamento ético na empresa e na cadeia de valor. Desenvolver o negócio de forma sustentável, gerenciando os eventuais impactos negativos e enfrentando os problemas trazidos pela percepção externa. Por exemplo, não se limitar a realizar coleta seletiva, ir além, gerenciando impactos ambientais de sua atividade.
“Empresas percebidas como realizadoras de boas práticas de ESG terão ganhos e farão o setor ir na mesma direção”, comentou. Segundo Redondo, não haverá uma certificação ESG, mas certificações independentes sobre boas práticas sociais, ambientais e de governança ajudam na credibilidade. Em tempos de redes sociais que arrasam com a reputação das empresas, acrescentou, a boa comunicação é fundamental. A empresa deve atuar de forma transparente, fixando publicamente metas, prestando contas a todos os públicos e assumindo erros publicamente quando ocorrerem. Demonstrar o que alcançou e os planos de ação para corrigir externalidades negativas. Compreender o que é diversidade de gênero, de opção sexual e de idade, e seus benefícios.
De acordo com o consultor, empresas percebidas como realizadoras de boas práticas ESG farão o setor ir nessa direção. É necessário mapear impactos, estabelecer uma agenda social, ter governança e metas, ter e comunicar indicadores sobre os resultados. Comunicar com equilíbrio aspectos positivos e negativos, e a agenda de desafios a serem superados. E focar nas questões de motivação de seus funcionários. Lembrou ainda que a credibilidade aumenta quando há avaliações externas positivas. E mencionou que bancos já premiam quem tem ESG, e não dão acesso a financiamentos a quem não tem.
O exemplo da MRV
Mayara Duarte, analista de Sustentabilidade Sênior da MRV, mostrou as boas práticas de sustentabilidade e governança daquela empresa. Destacou ações ligadas aos Objetivos de Desenvolvimento Social da ONU, na área ambiental e social, incluindo um programa de formação na cadeia de fornecedores, o desenho de uma matriz de riscos, metas de participação nos lucros e resultados atrelados à sustentabilidade, preocupação social com o entorno das obras, controle de emissões de gases de efeito estufa, entre outros.
Também mencionou estímulo à adoção de energia solar, conservação de água e energia, programas de alfabetização nos canteiros de obras, inovação em várias áreas. Os resultados se expressam em certificações como o Selo Ouro GHG, e participação em eventos internacionais, como na Assembleia Geral da ONU.
A reunião foi mediada por Lilian Sarrouf, coordenadora Técnica do Comasp (Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP). Ela lembrou que a participação das empresas nas ações de responsabilidade social e ambiental do SindusCon-SP podem ser mencionadas nos relatórios das mesmas. Sugeriu que, na próxima reunião do GT, estas ações sejam apresentadas e que as empresas relatem as principais dificuldades enfrentadas para implementar e reportar as boas práticas ESG.
Lilian destacou que a CECarbon, ferramenta gratuita desenvolvida pelo SindusCon-SP para medição de emissões de carbono e eficiência energética, é um exemplo de como o setor trabalha setorialmente para que as construtoras associadas mostrem ao governo e ao mercado financeiro seu diferencial. E informou que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) elabora uma Prática Recomendada sobre como as empresas podem se autoavaliar em relação a essas práticas.