Beijar na boca, uma demonstração prazerosa de carinho e amor, também pode transmitir doenças sistêmicas e da própria cavidade bucal, pelo contato, pela saliva e por feridas presentes em nossa boca ou na do parceiro. Por isso, deve-se evitar beijar, ter contato muito próximo ou com pessoas desconhecidas ou que estejam com sintomas como febre, dor no corpo ou feridas na boca. Também se deve evitar compartilhar o mesmo copo.
As recomendações são do dr. Leandro Batista Neves, dentista do Seconci-SP, e ganham um reforço a cada Carnaval. Ele explica que durante o beijo, vírus e bactérias presentes na saliva e na secreção respiratória podem causar doenças, contaminando pessoas saudáveis. O risco de contaminação é maior quando o parceiro se encontra debilitado e ou com a imunidade diminuída então, aumenta seu risco de contaminação.
“A saliva transmite infecções comuns como as sexualmente transmissíveis (ISTs), as respiratórias, as que causam febre e ainda as que atingem o sistema digestivo. O ideal é prevenir a contaminação, ter boa higiene oral e manter a imunidade alta por meio de alimentação saudável para se ter maior resistência a possíveis infecções”, observa o dr. Neves.
De acordo com o dentista, é preciso procurar atendimento médico em casos de alterações no corpo, como febre, dor de garganta e a presença de gânglios no pescoço, entre outras características típicas de doenças virais e bacterianas, para receber o tratamento adequado. “Algumas dessas doenças não têm tratamento e tendem a passar sem interferência médica. Portanto, os medicamentos usados geralmente são apenas para aliviar os sintomas”, afirma.
O dr. Neves lista as seguintes infecções e doenças transmissíveis pela boca:
1) Herpes simples. Os vírus de tipo 1 (oral) e 2 (genital) provocam lesões bolhosas em pele e mucosas, que podem se reativar periodicamente. Para que haja transmissão, é necessário que a pessoa esteja com lesão ativa causada pela doença. Este vírus, além das feridas, pode causar febre, dor de garganta e mal-estar. As lesões tendem a surgir quando a pessoa está com a imunidade baixa. Para evitar a transmissão da doença pela saliva, é possível usar pomada no local e até medicamentos que acelerem o processo de cicatrização.
2) Gripe, Covid e resfriados. A gripe ocorre quando o organismo é infectado pelo vírus influenza, enquanto o resfriado pode ser causado por vários tipos de vírus, como o rinovírus ou coronavírus. Dependendo do caso, essas doenças podem causar febre, tosse seca, coriza, cansaço e dores no corpo. Para aliviar os sintomas, é possível usar medicamentos como antitérmicos. A boca faz parte das vias aéreas — região afetada pelo vírus e local pelo qual o corpo tenta expelir o patógeno como forma de combater a doença. Por isso, devem-se usar máscaras durante a infecção. Para fortalecer o sistema imunológico, é importante aumentar a ingestão de água e manter uma alimentação saudável. Isso vale também para o paciente que tiver uma dessas infecções.
3) Mononucleose. Popularmente chamada de doença do beijo, ela tem como vírus responsável o Epstein-Barr, da família Herpesviridae. Os sintomas são febre, dor de garganta, gânglios no pescoço e até alterações no fígado e no baço. No entanto, pode ser assintomática ou causar sintomas parecidos com os da gripe, como dor no corpo, febre, cansaço, dor de garganta e caroços no pescoço. Os sintomas podem durar entre duas semanas e um mês; analgésicos e antitérmicos são prescritos para aliviá-los.
4) Meningite. Ocorre quando bactérias e vírus vencem as defesas do organismo e atingem as meninges, membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso central. Causa febre alta, mal-estar, vômitos, forte dor de cabeça e dor no pescoço.
5) Hepatite A. Causada pelo vírus VHA, a doença tem como sintomas febre, dores musculares, cansaço, mal-estar, falta de apetite, náuseas, urina escura e vômito. Além da via oral-fecal, pode ser transmitida por meio de água ou alimentos contaminados.
6) Catapora e caxumba. São doenças bastante comuns na infância. No caso da catapora, aparecem lesões pequenas e abundantes na pele. Portanto, é importante manter as feridas limpas e secas, repousar e usar medicamentos para controlar sintomas como febre e dor no corpo. Os principais sintomas são: manchas vermelhas e bolhas no corpo, mal-estar, cansaço, dor de cabeça, perda de apetite e febre baixa.
Já a caxumba, infecção viral causada pelo Paramyxovirus, causa inflamação nas glândulas salivares e sublinguais. Os principais sintomas são: inchaço e dor nessas glândulas, podendo ser em ambos os lados do rosto ou em apenas um deles; febre; dor de cabeça; fadiga e fraqueza; perda de apetite; e dor ao mastigar e engolir. A atenção deve ser redobrada no caso dos homens, pois a infecção pode atingir os testículos. Os sintomas podem melhorar com medicação.
Ambas as doenças podem ser evitadas por meio de vacinas, administradas ainda na infância. Entretanto, ainda assim é possível contrair tais infecções, mas de forma mais branda.
7) Candidíase. Doenças causadas por fungos. A candidíase oral, popularmente conhecida como “sapinho”, caracteriza-se por manchas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, aftas na língua ou na bochecha, e dor ou ardência nas regiões afetadas. Também pode haver dor no local. Para tratar, é necessário administrar medicamento oral, além de usar uma pomada no local das lesões.
8) Sífilis, Gonorréia, Herpes Labial e HPV. Infecções Sexualmente Transmissíveis, elas se manifestam por meio de pequenas feridas na boca e na região genital. O tratamento é com antibióticos. Os sintomas da sífilis são feridas na boca, febre, mal-estar, dor de cabeça e ínguas pelo corpo. Já no caso da gonorreia oral, os principais sinais de alerta são: sensação de queimação; dor na boca e na garganta; glândulas inchadas na região; e manchas brancas. No caso da herpes labial, os principais sintomas são vermelhidão, formigamento, coceira e ardência na boca; surgimento de pequenas bolhas e rachaduras nos lábios. Quando se trata do HPV, o principal sintoma é o surgimento de lesões brancas ou avermelhadas que podem ser semelhantes a uma afta na boca.
9) Doenças do trato digestivo. Doenças causadas por rotavírus, paraechovirus, vírus da hepatite A e norovirus. Apesar de cada doença ter seus próprios sintomas, todas elas apresentam sinais gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal e diarreia.
10) Cárie. É uma doença infectocontagiosa multifatorial, isto é, depende de vários fatores para se instalar. Para se desenvolver, a cárie precisa de uma microbiota específica, uma dieta rica em carboidratos, e uma higiene precária. Uma boa higiene oral e a visita periódica ao dentista evitam a doença. O fator transmissibilidade é crucial para seu aparecimento. Diante desse fato, a odontologia busca entender melhor a relação que existe entre os microrganismos e o desenvolvimento da cárie. A partir daí, concluiu-se que a transferência materna de microrganismos cariogênicos é difícil de ser evitada, sendo possível, no entanto, manter um equilíbrio satisfatório das condições orais na criança através de medidas educativas e preventivas junto às mães.
