Por Flávia Lopes Augusto Sampaio
Supervisora de Serviço Social do Seconci-SP
CONSCIENTIZAÇÃO – Um ato de compreender profundamente o mundo, o que permite a percepção e a enumeração das contradições sociais e políticas.
A consciência é formada pela relação de três aspectos: a informação de problemas socioambientais, a sensibilidade para reconhecer e se enxergar dentro dos problemas, e a autonomia para agir de maneira ativa. Nesse sentido, a campanha Abril Azul, que tem em 2 de abril o Dia da Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), objetiva difundir informações para a população sobre o Autismo e assim reduzir a discriminação, o preconceito que cerca as pessoas afetadas pelo transtorno e favorecer a inclusão delas na sociedade, respeitando o seu modo de ser.
Atualmente aumentaram os diagnósticos de pessoas com autismo. Não podemos estabelecer uma única causa, mas delinear alguns fatores que contribuíram para isso. Um deles é o aumento da conscientização sobre o TEA, seguido de mais acesso a serviços de diagnóstico, mais acesso à informação em geral e critérios de diagnóstico ampliados.
Autismo é um transtorno que afeta o neurodesenvolvimento, aparece na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. É necessário avaliar a importância do diagnóstico precoce, uma vez que esse transtorno é uma condição de saúde caracterizada por dificuldades em três importantes áreas do desenvolvimento: a socialização, a comunicação e o comportamento.
A causa ainda não foi completamente descoberta, por se tratar de um transtorno multifatorial, mas muitos estudos levam a uma causa genética, pois há mais de cem genes fazendo parte do espectro do autismo. Existem também causas ambientais que podem ser intra ou fora do útero, mas que também afetam, elevando a chance de a pessoa ter autismo, por exemplo, parto prematuro, sangramento na gravidez, diabetes gestacional, traumas.
Atualmente o DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) lista três níveis diferentes de TEA, determinados de acordo com a quantidade de suporte de que o indivíduo necessita. Eles são:
Nível 1: Requer suporte
As dificuldades de comunicação que uma pessoa com TEA nível 1 pode enfrentar incluem:
· dificuldade em iniciar interações sociais;
· resposta atípica à interação social;
· diminuição do interesse em interações sociais em alguns casos;
· capacidade de falar frases claras e se comunicar, mas com dificuldade de manter uma conversa e fazer amigos.
As dificuldades comportamentais que uma pessoa com TEA nível 1 pode enfrentar incluem:
· comportamento inflexível que interfere no funcionamento geral em um ou mais contextos;
· dificuldade para alternar entre atividades;
· dificuldades de organização e planejamento, que podem afetar a independência.
Nível 2: Requer suporte substancial
Os problemas de comunicação que uma pessoa com TEA nível 2 pode enfrentar incluem:
· dificuldades perceptíveis com habilidades de comunicação social verbal e não verbal;
· questões sociais aparentes apesar dos apoios em vigor;
· iniciação limitada de interação social;
· resposta reduzida às interações sociais;
· interações limitadas a interesses estreitos;
· diferenças mais significativas na comunicação não verbal.
Os problemas comportamentais que uma pessoa com TEA nível 2 pode enfrentar incluem:
· comportamento inflexível;
· dificuldade para lidar com a mudança;
· comportamentos restritos ou repetitivos que interferem no funcionamento diário;
· dificuldade em mudar o foco ou ação.
Nível 3: Requer muito suporte
Os problemas de comunicação que uma pessoa com TEA nível 3 pode enfrentar incluem:
· dificuldades graves na comunicação social verbal e não verbal;
· iniciação muito limitada de interações sociais;
· resposta mínima à interação social de outros;
· usar poucas palavras e fala inteligível;
· métodos incomuns de atender às necessidades sociais e responder apenas a abordagens muito diretas.
As dificuldades comportamentais que uma pessoa com TEA nível 3 pode enfrentar incluem:
· comportamento inflexível;
· extrema dificuldade em lidar com a mudança;
· comportamentos restritos ou repetitivos que interferem significativamente no funcionamento em todas as áreas da vida;
· experimentar grande angústia ao mudar o foco ou a atividade.
Os níveis de TEA correspondem à gravidade dos sintomas de autismo descritos acima e ao grau de suporte necessário. Além disso, é importante ter em mente que a quantidade de suporte de que uma pessoa autista precisa pode variar de acordo com as diferentes idades ou situações.
O autismo é um transtorno crônico até o momento, mas que conta com esquemas de tratamento que devem ser introduzidos tão logo seja feito o diagnóstico, e aplicados por equipe multidisciplinar.
As intervenções psicossociais podem reduzir as dificuldades de comunicação e de comportamento social, e ter um impacto positivo no bem-estar e na qualidade de vida de pessoas com TEAs e seus cuidadores. As intervenções voltadas para pessoas com TEAs devem ser acompanhadas de atitudes e medidas amplas que garantam que os ambientes físicos e sociais sejam acessíveis, inclusivos e acolhedores.
Isso envolve a intervenção de médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e educadores físicos, além da imprescindível orientação aos pais ou cuidadores. É altamente recomendado que uma equipe multidisciplinar avalie e desenvolva um programa de intervenção personalizado, pois nenhuma pessoa com autismo é igual a outra.
Enquanto mãe de uma criança autista, reforço o quanto são importantes as intervenções técnicas, mas também o cuidado familiar, escolar para o desenvolvimento das crianças.
O lugar de autista é onde ele quiser, o cuidar é necessário para inclusão, mas também é necessário o conhecimento da sociedade, legislações e políticas públicas para que isso de fato ocorra.
O 2 de Abril é um dia de luta para expandirmos e garantirmos os direitos das pessoas com autismo, bem como para mostrar à sociedade que existe essa parcela da população (1% no Brasil) que tem os mesmos direitos como qualquer outra pessoa, e que as suas diferenças sejam respeitadas. Precisamos entender que existem diferenças entre indivíduos e não seria distinto com as pessoas com Transtorno do Espectro Autista, por isso temos que respeitar a diferença e a diversidade, além de proporcionar tratamentos específicos.
Alguns dos Direitos dos Autistas
LEI Nº 12.764, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012. Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista;
CPTEA – A Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista – CIPTEA está prevista nas legislações municipais: Lei nº 17.502, de 3 de novembro de 2020, e Lei n º 17.695, de 22 de outubro de 2021, que institui o serviço no município de São Paulo, bem como de acordo a Lei Federal nº 13.977, de 8 de janeiro de 2020, conhecida como a Lei Romeo Mion.
Referências:
Silva, Micheline e Mulick, James A. Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2009, v. 29, n. 1 [Acessado 26 Julho 2021], pp. 116-131. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100010>. Epub 19 Jun 2012. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/S1414-98932009000100010.
Gadia, Carlos A., Tuchman, Roberto e Rotta, Newra T. Autismo e doenças invasivas de desenvolvimento. Jornal de Pediatria [online]. 2004, v. 80, n. 2 suppl [Acessado 26 Julho 2021], pp. 83-94. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300011>. Epub 11 Ago 2004. ISSN 1678-4782. https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300011.
https://institutoneurosaber.com.br/quais-sao-os-tipos-de-autismo-tea-2/
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/inovacao/noticias/?p=338223, acessado em 24/3/2023