Jane Gonçalves e Heloisa Pinheiros
Assistentes sociais da Unidade Central do Seconci-SP
O Dia da Consciência Negra é para celebrar história, cultura e força de um povo vindo da África e um dia de luta pela igualdade racial.
A Lei n.º 12.519, de 10 de novembro de 2011, instituiu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra, tornando-se um dia voltado para a reflexão sobre o que movimenta a criação da data. Foi escolhido por ser o dia da morte de Zumbi dos Palmares, personalidade considerada símbolo de luta e resistência contra a escravidão.
Tivemos diversos movimentos durante muitos anos na luta antirracista e na busca de igualdade racial, mas ainda estamos muito longe de conquistarmos os mesmos espaços e oportunidades. Mesmo o quantitativo de pessoas pretas tenha saltado de 14,5 milhões em 2010 para 20,6 milhões em 2022, o número de negros em meio a nossa sociedade, seja nas universidades ou política, por exemplo, ainda está longe de se tornar uma realidade. Hoje em dia, a criação de políticas públicas destinadas a maior presença do negro no mercado de trabalho e nos campos educacionais ainda permanece entre as reivindicações do movimento negro, juntamente com a efetiva aplicabilidade das leis que buscam a criminalização do racismo e a plena aceitação e respeito à cultura e herança histórica.
O mês de novembro marca um período especial de reflexão e mobilização em torno da Consciência Negra no Brasil. O dia 20 de novembro nos convida a refletir sobre a história, a cultura e os desafios enfrentados pela população negra. É um momento oportuno para discutir o impacto do racismo estrutural e as desigualdades sociais em diferentes setores. Pensando nisso, não podíamos deixar de citar a área da construção civil, um dos mais representativos no mercado de trabalho brasileiro, setor onde o Seconci-SP está inserido.
A construção civil tem suas raízes na história do Brasil, especialmente durante o período colonial, quando a mão de obra negra era escravizada e forçada a trabalhar em condições extremamente precárias. Os escravizados foram os principais responsáveis pela construção de edifícios e infraestrutura, sendo a base da economia colonial. Embora a abolição da escravatura tenha ocorrido há mais de um século, a herança desse período ainda é refletida na realidade enfrentada pelos trabalhadores negros desse setor.
A população negra continua a enfrentar discriminações e limitações no mercado de trabalho e o setor da construção civil, infelizmente, não está fora. Além disso, muitos trabalhadores negros ainda ocupam postos de menor remuneração e responsabilidade, com pouca oportunidade de ascensão para posições de liderança e cargos mais qualificados.
Segundo dados do IBGE, a população negra compõe uma parcela significativa dos trabalhadores na construção civil. No entanto, apesar da presença expressiva, ainda há desigualdade salarial e falta de oportunidades para crescimento e qualificação. Muitos profissionais negros ficam restritos a funções braçais, distantes da maioria dos cargos de chefia e gerência.
O racismo estrutural impacta a vida desses trabalhadores diariamente. Eles enfrentam preconceito racial, discriminação e barreiras que dificultam o acesso a cursos técnicos e especializações. Isso limita o desenvolvimento e o aprimoramento das habilidades, perpetuando o ciclo de desigualdade.
Nos últimos anos, algumas iniciativas têm buscado minimizar essas desigualdades, como programas de capacitação voltados para trabalhadores negros, promovidos por ONGs e institutos voltados à inclusão social. Empresas de construção civil também têm aderido a políticas de inclusão e diversidade, embora o progresso ainda esteja lento. A implementação dessas políticas ajuda a diminuir o abismo entre profissionais de diferentes origens étnicas e possibilita uma maior equidade no ambiente de trabalho.
Instituições como o Seconci-SP desempenham um papel essencial na promoção da saúde, segurança e inclusão dos trabalhadores. Por meio de ações socioeducativas, o Seconci-SP contribui para melhorar a qualidade de vida dos profissionais da construção civil, oferecendo apoio que vai desde consultas médicas, capacitação profissional e mobilizações para conscientizações como dessa temática, pois nós profissionais da saúde, em especial o Serviço Social, sabemos como preconceitos, discriminações e o racismo adoecem.
Ações de conscientização promovidas por organizações como o Seconci-SP também são fundamentais para erradicar o racismo no setor. Ao fornecer informações e sensibilizar gestores e trabalhadores, essas iniciativas buscam construir um ambiente mais justo, onde todos possam ter as mesmas oportunidades, independentemente da cor da pele.
O Dia da Consciência Negra é um convite para refletirmos sobre como podemos construir um futuro mais inclusivo e igualitário. É necessário que o setor da construção civil, que historicamente contou com o trabalho da população negra, também se engaje nesse processo de transformação.
Investir em inclusão, promover a igualdade de oportunidades e capacitar trabalhadores negros são passos fundamentais para que o setor da construção civil se torne um exemplo de justiça e respeito à diversidade. Apenas assim conseguiremos construir, de fato, uma sociedade mais justa e igualitária.
A luta pela Consciência Negra no Brasil transcende um único dia e precisa ser uma pauta permanente em todas as áreas, incluindo a construção civil. Para avançarmos, é essencial o compromisso de toda a sociedade, desde gestores até trabalhadores, com a valorização e o respeito aos profissionais negros. Afinal, a construção de um Brasil mais inclusivo começa com a consciência de todos.
Para a/o assistente social, é compromisso ético-político enfrentar o racismo no cotidiano de trabalho e nas lutas sociais, considerando também outras expressões de desigualdade, especialmente de classe e gênero. Nós, da Unidade Central do Serviço Social do Seconci-SP, atuamos incansavelmente contra o preconceito, a discriminação e a desigualdade.