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CPR-SP debate prevenção ao alcoolismo e ergonomia

As ações do Seconci-SP de prevenção ao alcoolismo e uma nova ferramenta para avaliação ergonômica dos postos de trabalho foram apresentadas na 4ª Reunião Online de 2023 do Comitê Permanente Regional do Estado de São Paulo (CPR-SP) da NR-18 – Saúde e Segurança na Indústria da Construção, em 8 de agosto.

 

Alcoolismo nas obras

O consumo de álcool é prevalente no ambiente social das famílias dos trabalhadores da construção desde a infância e um fator de inclusão social, comentou o dr. Alexandre de Castro Costa, gerente Médico-Ambulatorial do Seconci-SP.

Para a prevenção, ele destacou a necessidade de se abordar a questão nos Diálogos Diários de Segurança, motivando os mestres de obra e técnicos de segurança a observarem os sinais de alcoolismo entre os trabalhadores. Desta forma, evita-se que a dependência evolua e somente chegue a ser detectada nos exames periódicos.

O dr. Costa salientou a necessidade de as empresas criarem um fluxo para o tratamento de alcoolizados, e não dispensá-los por justa causa, o que agravará ainda mais a doença. E reforçou a importância de o PCMSO olhar a saúde do funcionário de maneira abrangente e global, indo além da avaliação simplesmente ocupacional e incluindo a realização de exames preventivos para diversas patologias.

Para aferir aptidão em trabalho em altura e espaços confinados, o médico relatou que Seconci-SP tem a participação de uma psicóloga, possibilitando ao trabalhador se abrir e permitindo a avaliação da necessidade de a pessoa necessitar de tratamento. Nas obras, a orientação da entidade é se abordar com cuidado o trabalhador que sinaliza dependência, oferecendo-lhe os serviços do Seconci-SP. O mesmo cuidado é dispensado no acolhimento do usuário na entidade.

A assistente social Flávia Lopes Augusto Sampaio, supervisora do Setor de Serviço Social do Seconci-SP, mostrou em sua apresentação o processo devastador do alcoolismo sobre os profissionais, destacando que a dependência química é uma doença crônica que independe da escolha da pessoa, ocasiona outras doenças e pode levar até à morte.

Entre os fatores motivadores ao alcoolismo, ela relacionou: exposição precoce à bebida alcoólica, fatores sociais e pessoais, predisposição genética e doenças psiquiátricas, fragilidades como solidão, pressão social para a pessoas se sentir incluída no grupo, fácil acesso e baixo custo, e hábito de consumo de bebida.

De acordo com Flávia, sinalizam alcoolização no canteiro de obra aspectos como comportamentos inadequados, ingestão de bebida no meio do horário de trabalho, tentativas mal-sucedidas de abandonar o hábito, levar álcool para o ambiente de trabalho e priorizar o consumo em vez das relações domésticas e sociais.

A assistente social relatou que, desde 2011, o Seconci-SP atua de forma humanizada e desprovida de preconceito na prevenção e no tratamento do alcoolismo. A entidade tem um grupo multidisciplinar de apoio para os usuários de substâncias psicoativas, complementando o atendimento médico. O grupo acolhe esses usuários; motiva-os a deixarem o consumo do álcool e enfrentar as condições que os levaram à dependência; ajuda-os a manterem a abstinência e a evitar recaídas; e oferece apoio aos familiares. O Seconci-SP ainda dispõe de atendimento psicológico individual aos usuários.

Dependendo do estágio da dependência, a entidade também encaminha usuários a serviços como o Caps (Centro de Atenção Psicossocial) e o Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), além de divulgar o Disque Saúde do SUS.

Marcos Antonio de Almeida Ribeiro, vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp), propôs um treinamento com os técnicos de segurança para realizarem uma abordagem adequada aos usuários nos canteiros.

 

Ferramenta para ergonomia

Em sua apresentação, o engenheiro Eduardo Linzmayer, professor do Instituto Mauá de Tecnologia, mostrou um projeto piloto de análise ergonômica em postos de trabalho, com a utilização de um software desenvolvido pela Kinebot, entrevistas e outros recursos, junto com a equipe de uma empresa vidreira onde o projeto foi aplicado.

O software reproduz os principais movimentos do trabalhador, eliminando a subjetividade que pode ocorrer, mediante a realização de gráficos e análises precisas sobre os impactos das tarefas exercidas no corpo do profissional.

O projeto entregou uma avaliação ergonômica preliminar do ambiente e dos postos de trabalho, uma avaliação ergonômica do trabalho propriamente dito e um plano de ação para o correto respeito aos padrões ergonômicos exigidos pelas normas.

Como resultados dessa atuação, figuraram: especificação correta do mobiliário da empresa, previsão de redução de afastamentos e absenteísmos, aumento da produtividade das operações, e melhora da motivação e da qualidade de vida dos profissionais.

O professor ofereceu a realização de uma pesquisa semelhante em uma ou duas construtoras, junto com profissionais do Seconci-SP que já participaram da formação sobre ergonomia no Instituto Mauá. E ofereceu ao SindusCon-SP um programa de capacitação ergonômica para as pequenas e médias construtoras.

José Bassili, gerente de Segurança Ocupacional do Seconci-SP, ofereceu o Seconci-SP para a realização de pesquisas e capacitação das construtoras nas posturas ergonômicas corretas.

Alison Alfred Klein, sócio-diretor da Kinebot, destacou que a análise ergonômica se faz em campo. Observou que, na construção civil, fazia falta uma medição das posturas inadequadas, a qual agora o software ajuda a realizar. Segundo ele, o software permite a avaliação preliminar completa de todas as posturas do trabalhador da construção, com a melhoria contínua das mesmas e das condições do trabalho.

O auditor fiscal do Trabalho Antonio Pereira, coordenador do Projeto da Construção da Seção de Segurança e Saúde no Trabalho da Superintendência Regional do Trabalho (SRTb/SP) no Estado de São Paulo, destacou que a NR 17 determina que haja avaliação ergonômica, e as construtoras estão sendo alertadas e serão fiscalizadas para que atendam à norma e a integrem com o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos). Ele defendeu a industrialização dos processos construtivos para poupar o trabalho repetitivo dos trabalhadores e criticou ferramentais sem adaptações ergonômicas, utilizados na construção.

Pereira também alertou que têm ocorrido acidentes com equipamentos de guindar. Informou que sairá uma norma de certificação de profissionais que operam esses equipamentos. Reforçou que outra norma, sobre dispositivos elétricos, está em vigor desde fevereiro.


Marcos Ribeiro, do Sintesp, lamentou que pequenas e médias construtoras não têm atendido as exigências ergonômicas, prejudicando a saúde dos trabalhadores. Chamou a atenção para a importância da presença desses técnicos no canteiro, e não em uma mesa operando software. E alertou para a necessidade de as construtoras fiscalizarem a segurança do trabalho entre os profissionais das terceirizadas.

O evento foi coordenado por José Bassili, Antonio Pereira e Marcos Ribeiro. Bassili ainda lembrou que estão abertas as inscrições para a Megasipat e que prossegue a Campanha Queda Zero.

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