Parceiros na saúde
Sergio Porto*
Os governos da União, dos Estados e dos Municípios estão enfrentando de forma ainda mais aguda um dilema que já vem dos anos anteriores. Continua aumentando o número de pessoas que, desempregadas, saíram dos planos privados de saúde e hoje buscam atendimento na rede pública.
Entretanto, devido à mesma crise econômica, o poder público viu suas receitas diminuírem e alguns entes governamentais já anunciaram contingenciamentos, inclusive nas verbas destinadas à saúde. Ou seja, será necessário atender mais gente, com menos recursos.
É aqui que aumentará a responsabilidade das instituições parceiras do poder público na área da saúde. Para atender os 2,6 milhões de trabalhadores da construção civil, a indústria do setor mantém unidades do Seconci (Serviço Social da Construção) em boa parte dos Estados, proporcionando atendimentos médicos e odontológicos a esses trabalhadores e seus familiares.
A iniciativa contribui para diminuir as filas de atendimento do SUS (Sistema Único de Saúde) e dar suporte às construtoras em suas ações preventivas de medicina ocupacional e segurança do trabalho. Assim, evitam-se doenças e acidentes do trabalho, poupando recursos do INSS.
Para se ter uma ideia do alcance desta ação, o Seconci-SP realizou 2 milhões de atendimentos médicos em 21 especialidades, atendimentos odontológicos, exames e outros procedimentos em suas 13 unidades próprias, em 2016, no Estado de São Paulo.
Também credenciada como OSS (Organização Social de Saúde), a entidade realizou outros 6,7 milhões de atendimentos nas 59 unidades das redes de saúde pública do Estado e do Município de São Paulo e 25 serviços do Município que estão sob sua administração. Entre aquelas, figuram os 3 hospitais – Cotia, Itapecerica da Serra e Vila Alpina –, listados entre os 10 melhores hospitais públicos do país, de acordo com a certificação de Excelência da ONA (Organização Nacional de Acreditação).
No ano passado, o número de atendimentos nessas unidades aumentou devido justamente à elevação do número de pessoas que, desempregadas, deixaram seus planos privados de saúde. Também contribuíram para o aumento a epidemia de dengue, zika e chicungunha, e ainda o início do funcionamento do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) Lorena, inaugurado em julho, administrado pelo Seconci-SP.
Já o número de atendimentos nas unidades próprias da entidade caiu 5%, uma queda menor do que o declínio de 14% do emprego na construção civil. Isto porque a instituição manteve o tratamento de pessoas que perderam o emprego e, ao mesmo tempo, aumentou o atendimento aos trabalhadores das subempreiteiras.
Mesmo com a crise econômica, o Seconci-SP investiu em 2016 cerca de R$ 9 milhões na expansão e melhorias em suas unidades, e deverá investir mais R$ 4 milhões em 2017. A entidade está adotando um Programa de Compliance com a adesão de todos os seus 12 mil colaboradores que incluem 3,2 mil médicos e dentistas, e de seus fornecedores, para consolidar sua boa governança, que conta com a participação de representantes das principais entidades da construção paulista.
O desafio que temos pela frente é garantir o direito constitucional de todos os brasileiros à saúde, otimizando cada vez mais a gestão dos recursos disponíveis. As entidades parceiras do poder público tornaram-se relevantes nesse processo. Portanto, é preciso cuidar muito bem destas parcerias, trabalhando incessantemente pela melhoria contínua do atendimento à população.
*Sergio Porto é presidente do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), representante do SindusCon-SP (Sindicato da Construção) junto à Fiesp e membro do Conselho Consultivo da Fiabci-Brasil (Federação Internacional Imobiliária)